sexta-feira, 25 de setembro de 2009

UJS: acelerar a chegada do futuro

A União da Juventude Socialista (UJS) comemora, com exuberante vigor, seus 25 anos. Tem uma presença marcante na vida da juventude e nas lutas políticas do país.
Sua vitalidade se evidencia nos inúmeros combates travados, quer seja nas mobilizações de rua ou na arena da luta de idéias e, também, pelas responsabilidades que exerce como força política hegemônica nas duas principais entidades dos estudantes brasileiros - a UNE, União Nacional dos Estudantes, e a Ubes, União Brasileira de Estudantes Secundaristas.

É atuante em todas as unidades da Federação. Tem 100 mil filiados e se espalhou no território nacional, em mais de 700 municípios. Seu ponto forte é a luta dos estudantes, mas já diversificou suas frentes de ação e combate. Hip-Hop, outros movimentos de cultura, jovens trabalhadores, jovens cientistas, jovens mulheres, ecologia... São 15 frentes de trabalho! A emocracia rege a sua dinâmica interna. Prova disso, são seus congressos que movimentam dezenas de milhares de jovens.

Embora com justa razão se regozige com o patamar atingido, a UJS sabe que há ainda muito por realizar e para se expandir.

Nasceu no epílogo do regime militar, em 1984, já participando da jornada democrática das diretas-já. Surgiu com um programa democrático, patriótico, juvenil e socialista. Da sua fundação, em congresso realizado no plenário da Assembléia Legislativa de São Paulo, participaram lideranças egressas do movimento estudantil, como Aldo Rebelo, que foi o seu primeiro presidente, e também lideranças vinculadas à outros setores do povo e dos trabalhadores, como jovens sindicalistas e lideranças comunitárias. Estavam entre os fundadores, jovens artistas do mundo da cultura erudita e popular. E é claro, como não poderia deixar de ser no país do futebol, lideranças juvenis amantes e praticantes de várias modalidades do esporte.

De lá para cá muitas passeatas passaram na avenida. E a UJS esteve em todas elas, na maioria, à frente.

Na Constituinte de 1988, depois de muita peleja, por sua iniciativa e luta, os jovens brasileiros conquistaram o direito de voto aos 16 anos. Em 92, comandou uma das mais belas jornadas de luta da juventude brasileira: as mobilizações dos carapintadas que foram decisivas à vitória da campanha Fora Collor.

Quando veio a década neoliberal e era preciso resistir, e para tanto se exigia consciência e capacidade de mobilização, a juventude estudantil, apesar das adversidades, "não se afastou das ruas", e lá no meio dela, estava a UJS. Nesse período ela defendeu a universidades e as escolas públicas, que no roldão do desmonte do Estado nacional, estavam sendo sucateadas, com a educação entregue ao mercado.

Em 2004, quando a UNESCO, braço das Nações Unidas para a educação e cultura, divulgava um mapa da violência que apontava o Brasil em quinto lugar no macabro campeonato mundial de mortalidade juvenil por homicídio, a UJS há muito já denunciava que no Brasil os jovens são os que mais sofrem com a realidade de violência que impera, principalmente, na periferia das metrópoles. Nesse sentido incentivou, a Ubes e a UNE a realizar a campanha "Sou da paz", com intuito de combater essa dramática estatística de assassinatos de jovens.

Quando no triênio 89-91 eclodiu um verdadeiro abalo sísmico no mundo da idéias com a dissolução da União Soviética, a UJS soube se manter de pé, não foi arrastada pelo vendaval anticomunista que o imperialismo desencadeou. Entrou na arena e participou da luta teórica que reafirmou o socialismo em bases novas. Nessa batalha, ou melhor, nessa guerra travada, esteve lado a lado com o Partido Comunista do Brasil, PCdoB, partido que liderou de forma vitoriosa o enfrentamento dessa crise do socialismo. PCdoB, aliás, que foi o grande incentivador da fundação da UJS e com a qual mantém contínua comunicação e ação conjunta.

A UJS tendo participado das campanhas que levaram Lula à Presidência, se movimenta nos dias atuais, tanto respaldando o governo que ajudou a eleger quanto o impulsionando a cumprir o programa de mudanças com o qual selou compromisso com o povo brasileiro. Em especial, se dedica para que se honrem os compromissos firmados com a juventude brasileira, principalmente, no que se refere a seus direitos ao trabalho, à educação pública de qualidade, ao esporte e à cultura. Tem contribuído com a elaboração do programa de políticas públicas para a juventude a ser implementado pelas diferentes áreas do governo.

Em 2005, quando a direita golpista e seu monopólio midiático conspiravam para cassar o mandato do presidente Lula, a UJS estava na linha de frente do movimento social que se levantou em defesa da democracia.

Num mundo marcado pela escalada de guerra do imperialismo norte-americano, a UJS tem como uma de suas prioridades a luta pela paz e a defesa da soberania dos povos. Internacionalista, mantém relações com entidades juvenis, democráticas e revolucionárias, de vários países.

Os jovens socialistas promovem e defendem a cultura brasileira, tratam-na como um dos principais patrimônios de nosso povo, uma das marcas da própria identidade nacional. Não é pois sem motivo que escolheram, desde o início, o poeta Castro Alves, como patrono. Lutam, também, pelo fortalecimento da produção científica no país, juntam sua voz as dos pesquisadores e cientistas brasileiros que alertam as autoridades para o fato de ciência e tecnologia serem requisitos à soberania de qualquer país.

Os jovens da UJS se consideram herdeiros da rica tradição de luta da juventude de seu país. Jornadas que remontam à época do Brasil Colônia quando se irromperam as primeiras lutas pela independência, passando pela campanha dos estudantes pela Abolição da escravatura e pela República, pela paz e contra o nazi-fascimo. De modo especial os jovens da UJS se apresentam como continuadores dos jovens combatentes da Guerrilha do Araguaia. Ao reivindicarem a si essa herança expressam uma opção contundente pela militância, pela consciência de que é possível construir uma sociedade nova num mundo bem diferente deste.
Mesmo quando as iniqüidades da realidade presente pressionam a juventude a descrer de sua força e a duvidar do triunfo do novo.

À época de sua fundação, em 1984, entre as reflexões políticas e teóricas que motivaram o seu lançamento circulava a idéia de que era preciso "proteger a juventude dos efeitos destrutivos do atual sistema". O caminho que a juventude encontrou para se proteger das ações destrutivas do capitalismo foi o da união, da luta, do exercício pleno e consciente de seu vigor e de sua rebeldia em prol de um Brasil livre, soberano, democrático e socialista.


Adalberto Monteiro, Jornalista e poeta, é secretário nacional de Formação e Propaganda do PCdoB e presidente da Fundação Maurício Grabois.

As Tarefas Históricas da União da Juventude Socialista em Mato Grosso do Sul.

Ser amplo significa conciliar a radicalidade do programa político com a base material capaz de executá-la. Os recém completados vinte e cinco anos da União da Juventude Socialista possuem vastos fatos históricos que se orientam por tal visão de mundo. A política institucional sul-matogrossense, concebida pelos donos do poder como a grande política, revela outra perspectiva: trava-se constantemente um diálogo que se posiciona para além da sociedade civil, na verdade, a grande política não é mais do que, o movimento dos rearranjos das oligarquias locais. Realiza-se a profissão de fé das lideranças, executa-se a ordem do discurso de suas potencialidades individuais e de pronto estabelece-se a apologia do líder nato: o oligarca torna-se o povo.

A falha fundamental dessa grande política é a mesma que seguiu o pensamento de Hegel acerca do Estado Moderno Liberal, para o filósofo alemão, o Estado é uma “vontade interna da família, uma necessidade externa da sociedade civil, portanto, um fim imanente”. Esse rebuscamento filosófico do pensador idealista é o mesmo que está contido na fala das multidões que afirmam “sempre foi assim”. O interessante é que a oligarquia, ao menos seu destacamento mais esclarecido, conhece muito bem o conteúdo falacioso dessa concepção e os riscos que esta pode acarretar.

A composição orgânica da vida política muito pouco depende da vontade e dos interesses individuais, eles se organizam a partir da luta de classes. Entendendo que a luta de classes é um movimento dialético, não bipolar, isto é, não significa unicamente a luta dos donos dos meios de produção e do proletariado, o combate histórico organiza-se também no seio das próprias classes. Recentemente, a luta de fração ou destacamento de classe expressou-se no combate entre a Rede Globo e a Rede Record, o mesmo fenômeno ocorre no seio da classe trabalhadora, na medida em que incorpora a visão de mundo e ideologia da classe dominante.

Essa reflexão preliminar procura compreender a aparente existência de uma política acima de nós.

A UJS não pode se deixar seduzir por tal perspectiva. Se a velha classe política de Mato Grosso do Sul, e suas expressões na Juventude, orientam-se por uma visão de mundo que compreende a sociedade civil como um instrumento abstrato de sua política, nós pelo contrário, devemos compreender a sociedade civil numa perspectiva organizativa, isto é, para os dominantes a sociedade civil necessariamente não pode existir politicamente porque os donos do poder não constituem a sociedade civil. A UJS deve ser necessariamente a expressão da sociedade civil organizada amplamente na política.

Estabelecer essa compreensão na práxis, na condição de síntese entre o pensamento filosófico e a ação política, pressupõe compreender algumas questões.

Significa compreender que a juventude não é nem conservadora nem progressista, mas uma enorme potencialidade em disputa, ou seja, o processo de formação da juventude estabelece-se historicamente. A minha geração, por exemplo, foi educada sob os escombros do muro de Berlim e sob a égide do assim denominado “mundo livre”, para logo em sua segunda década de existência perceber a ruína desse mesmo mundo livro cunhado na palavra “crise”. Para compreender a formação histórica do indivíduo na sociedade multipolarizada precisamos entender o próprio movimento da luta de classes nessa sociedade, os novos destacamentos e frações que cada classe apresentam nesse momento histórico: a pós-modernidade, a onda ecológica e etc. Isso não é um fato, mas uma tarefa histórica.

Significa ampliar os espaços de diálogo com a juventude. Nesse sentido as novas mídias e formas de comunicação ocupam espaço privilegiado, e isso é consenso tão verdadeiro quanto o combate que as elites midiáticas estão fazendo contra a Conferência Nacional de Comunicação. É preciso estabelecer um programa de formação que se apodere desses espaços virtuais e essa é uma tarefa histórica para a qual a União da Juventude Socialista possui condições reais de execução, primando pela relação dialética entre a formação dos militantes nesse espaço e a ampliação e descentralização das tarefas de comunicação. Os órgãos de comunicação devem estar em todos os lugares com uma unidade interna de organização, entretanto, primando pela descentralização por incorporação de novos militantes nessa tarefa. Não basta que a comunicação exista como uma ferramenta descritiva das atividades da UJS ela precisa tornar-se a expressão necessária da vida orgânica de cada coletivo ou núcleo de base, aperfeiçoando a formação e mobilizando, visando ampliar a democracia na vida política dessas organizações. A comunicação deve superar certa dicotomia entre o público e o privado, entre o interno e o externo. A comunicação deve ser o instrumento de informação, respeito, expressão e admiração de cada militante, tal como, o vermelho. O coletivo da UJS precisa vislumbrar a necessidade de se expandir - para além das fileiras de militantes, amigos e aliados da Juventude do Araguaia - e começar a estabelecer um diálogo sem fronteiras de participação, de execução, ou de debate, com toda a sociedade civil. Isso não significa depositar a esperança da redenção da humanidade na tecnologia, pelo contrário, significa organizar a militância para a tomada do poder desse espaço e também por meio desse espaço.

A formação deve ser compreendida como ferramenta organizativa para o combate das idéias apropriando-se das novas mídias com dinamismo e agilidade. Além disso, a formação deve cumprir também um papel de pesquisa dos movimentos da Juventude o que fornece subsídios para a elaboração dos programas, desde um programa político nacional até uma carta programa para uma disputa de centro acadêmico. É preciso realizar a tarefa histórica de aproximar ainda mais a relação entre comunicação, mobilização e formação na medida em que esses níveis da vida orgânica catalisam a capacidade organizativa da Juventude do Araguaia.

Já temos maturidade para organizar um plano estratégico para UJS de Mato Grosso do Sul com uma amplitude temporal mais relativa, um plano que só poderá ser objetivado com o desenvolvimento das ferramentas de comunicação e formação. A organização dessa estratégia é a nossa principal tarefa porque constituí-se como síntese, ao mesmo tempo, da capacidade de nossas ferramentas organizativas e de nossa habilidade política.

Debater nossa organização na condição de tarefa histórica significa levar em conta a complexidade constituinte da vida política contemporânea. Se os instrumentos da velha classe política sul-matogrossense se expressão na mistificação da juventude, a capacidade de nossa vida orgânica é o grito da juventude contra esse antigo regime. Nesse sentido a Juventude do Araguaia cumpre a tarefa histórica de empurrar a velha classe política para o lugar que lhe há de corresponder: o museu de antiguidades.
Grande Política?


Thiago Oliveira Custódio
Secretário de Formação UJS/MS