sexta-feira, 25 de setembro de 2009

As Tarefas Históricas da União da Juventude Socialista em Mato Grosso do Sul.

Ser amplo significa conciliar a radicalidade do programa político com a base material capaz de executá-la. Os recém completados vinte e cinco anos da União da Juventude Socialista possuem vastos fatos históricos que se orientam por tal visão de mundo. A política institucional sul-matogrossense, concebida pelos donos do poder como a grande política, revela outra perspectiva: trava-se constantemente um diálogo que se posiciona para além da sociedade civil, na verdade, a grande política não é mais do que, o movimento dos rearranjos das oligarquias locais. Realiza-se a profissão de fé das lideranças, executa-se a ordem do discurso de suas potencialidades individuais e de pronto estabelece-se a apologia do líder nato: o oligarca torna-se o povo.

A falha fundamental dessa grande política é a mesma que seguiu o pensamento de Hegel acerca do Estado Moderno Liberal, para o filósofo alemão, o Estado é uma “vontade interna da família, uma necessidade externa da sociedade civil, portanto, um fim imanente”. Esse rebuscamento filosófico do pensador idealista é o mesmo que está contido na fala das multidões que afirmam “sempre foi assim”. O interessante é que a oligarquia, ao menos seu destacamento mais esclarecido, conhece muito bem o conteúdo falacioso dessa concepção e os riscos que esta pode acarretar.

A composição orgânica da vida política muito pouco depende da vontade e dos interesses individuais, eles se organizam a partir da luta de classes. Entendendo que a luta de classes é um movimento dialético, não bipolar, isto é, não significa unicamente a luta dos donos dos meios de produção e do proletariado, o combate histórico organiza-se também no seio das próprias classes. Recentemente, a luta de fração ou destacamento de classe expressou-se no combate entre a Rede Globo e a Rede Record, o mesmo fenômeno ocorre no seio da classe trabalhadora, na medida em que incorpora a visão de mundo e ideologia da classe dominante.

Essa reflexão preliminar procura compreender a aparente existência de uma política acima de nós.

A UJS não pode se deixar seduzir por tal perspectiva. Se a velha classe política de Mato Grosso do Sul, e suas expressões na Juventude, orientam-se por uma visão de mundo que compreende a sociedade civil como um instrumento abstrato de sua política, nós pelo contrário, devemos compreender a sociedade civil numa perspectiva organizativa, isto é, para os dominantes a sociedade civil necessariamente não pode existir politicamente porque os donos do poder não constituem a sociedade civil. A UJS deve ser necessariamente a expressão da sociedade civil organizada amplamente na política.

Estabelecer essa compreensão na práxis, na condição de síntese entre o pensamento filosófico e a ação política, pressupõe compreender algumas questões.

Significa compreender que a juventude não é nem conservadora nem progressista, mas uma enorme potencialidade em disputa, ou seja, o processo de formação da juventude estabelece-se historicamente. A minha geração, por exemplo, foi educada sob os escombros do muro de Berlim e sob a égide do assim denominado “mundo livre”, para logo em sua segunda década de existência perceber a ruína desse mesmo mundo livro cunhado na palavra “crise”. Para compreender a formação histórica do indivíduo na sociedade multipolarizada precisamos entender o próprio movimento da luta de classes nessa sociedade, os novos destacamentos e frações que cada classe apresentam nesse momento histórico: a pós-modernidade, a onda ecológica e etc. Isso não é um fato, mas uma tarefa histórica.

Significa ampliar os espaços de diálogo com a juventude. Nesse sentido as novas mídias e formas de comunicação ocupam espaço privilegiado, e isso é consenso tão verdadeiro quanto o combate que as elites midiáticas estão fazendo contra a Conferência Nacional de Comunicação. É preciso estabelecer um programa de formação que se apodere desses espaços virtuais e essa é uma tarefa histórica para a qual a União da Juventude Socialista possui condições reais de execução, primando pela relação dialética entre a formação dos militantes nesse espaço e a ampliação e descentralização das tarefas de comunicação. Os órgãos de comunicação devem estar em todos os lugares com uma unidade interna de organização, entretanto, primando pela descentralização por incorporação de novos militantes nessa tarefa. Não basta que a comunicação exista como uma ferramenta descritiva das atividades da UJS ela precisa tornar-se a expressão necessária da vida orgânica de cada coletivo ou núcleo de base, aperfeiçoando a formação e mobilizando, visando ampliar a democracia na vida política dessas organizações. A comunicação deve superar certa dicotomia entre o público e o privado, entre o interno e o externo. A comunicação deve ser o instrumento de informação, respeito, expressão e admiração de cada militante, tal como, o vermelho. O coletivo da UJS precisa vislumbrar a necessidade de se expandir - para além das fileiras de militantes, amigos e aliados da Juventude do Araguaia - e começar a estabelecer um diálogo sem fronteiras de participação, de execução, ou de debate, com toda a sociedade civil. Isso não significa depositar a esperança da redenção da humanidade na tecnologia, pelo contrário, significa organizar a militância para a tomada do poder desse espaço e também por meio desse espaço.

A formação deve ser compreendida como ferramenta organizativa para o combate das idéias apropriando-se das novas mídias com dinamismo e agilidade. Além disso, a formação deve cumprir também um papel de pesquisa dos movimentos da Juventude o que fornece subsídios para a elaboração dos programas, desde um programa político nacional até uma carta programa para uma disputa de centro acadêmico. É preciso realizar a tarefa histórica de aproximar ainda mais a relação entre comunicação, mobilização e formação na medida em que esses níveis da vida orgânica catalisam a capacidade organizativa da Juventude do Araguaia.

Já temos maturidade para organizar um plano estratégico para UJS de Mato Grosso do Sul com uma amplitude temporal mais relativa, um plano que só poderá ser objetivado com o desenvolvimento das ferramentas de comunicação e formação. A organização dessa estratégia é a nossa principal tarefa porque constituí-se como síntese, ao mesmo tempo, da capacidade de nossas ferramentas organizativas e de nossa habilidade política.

Debater nossa organização na condição de tarefa histórica significa levar em conta a complexidade constituinte da vida política contemporânea. Se os instrumentos da velha classe política sul-matogrossense se expressão na mistificação da juventude, a capacidade de nossa vida orgânica é o grito da juventude contra esse antigo regime. Nesse sentido a Juventude do Araguaia cumpre a tarefa histórica de empurrar a velha classe política para o lugar que lhe há de corresponder: o museu de antiguidades.
Grande Política?


Thiago Oliveira Custódio
Secretário de Formação UJS/MS

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